Escutei o som das bolhas de água que começavam a estourar. Tirei a água do fogão. Sentei na janela observando aquela paisagem do inverno. O vento frio vinha me causando um arrepio na espinha. Eu puxei minha blusa contra mim. Eu estava novamente sozinha ali, naquela casa. O medo da solidão me assombrou como de costume. Olhava minhas fotos penduradas na parede, meu sorriso era o que mais me chamava à atenção nelas. Um passado, tão próximo e tão distante. Um momento nostálgico tomou conta de mim. Talvez aquilo não me fizesse bem, ou talvez fosse à única coisa que me fizesse feliz, mesmo que isso me fizesse sentir saudade depois. Saudade, sentimento que machuca, mas que talvez prove que o passado valeu muito à pena. Será mesmo? Sim. Essa afirmação não me restava duvida. Meus melhores momentos estavam na memória. Mesmo os do presente. Porque o presente é o agora, e o agora já passou. Voltei meu olhar para fora da janela. Apesar de ter meus olhos fixados em uma árvore do jardim, aquilo não me chamava atenção. Minha atenção estava completa em minha mente. Eram assim todos os dias. Pensar, lembrar, relembrar, criar diálogos. Fazia isso diariamente, mesmo sabendo que jamais teria coragem de colocar meus planos em prática, de voltar no tempo para as lembranças e que esses diálogos jamais aconteceriam. Voltei para preparar meu chá. Assim começaria mais uma tarde solitária em um dia de inverno...
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